Circularidade, empatia, ESG: os desafios das organizações no pós-pandemia*

É preciso ter ciência de que as táticas de crescimento não podem ser erguidas sobre os mesmos pilares que conduziram os resultados no pré-pandemia

*Por Felipe Leonard

ESG

A crise gerada pela pandemia impactou quase 45% dos negócios no Brasil. Mais do que nunca, as empresas vivenciaram uma época de aprendizado, onde tiveram de descobrir como lidar com incertezas. Além da boa condução dos negócios e da melhoria dos seus mecanismos de gestão de risco, outra responsabilidade básica que se tornou mais premente foi o cuidado com os colaboradores.

Todo esse cenário desafiador exigiu mudanças de rota, tanto para superar o estado de crise, como também para criar valor para toda a cadeia, em longo prazo. Ficou evidente que voltar aos paradigmas antigos não era, nem de longe, uma opção acertada.  Com isso, as organizações tiveram de repensar seus propósitos e notaram que era necessário embasar suas trajetórias em princípios como a sustentabilidade, a resiliência e a inclusão.

É fato que todas as práticas corporativas precisaram ser revisadas, a fim de nos encaminhar para a prosperidade – é importante lembrar que a pandemia segue em curso. E a verdade é que, à medida que o mundo começa a definir as noções de normalidade para a era seguinte à Covid-19, os CEOs precisam recriar, de modo emergente, suas estratégias.

É preciso ter ciência de que as táticas de crescimento não podem ser erguidas sobre os mesmos pilares que conduziram os resultados no pré-pandemia. Nesse sentido, as corporações devem redesenhar os padrões de amanhã, com base em um plano de eficiência global. Porém, a verdadeira melhoria contínua deve ser suportada por princípios como transparência, equidade e responsabilidade socioambiental. Ou seja, cada vez mais, as métricas operacionais e os processos organizacionais devem seguir um mindset, que envolve comportamentos e atitudes fundamentadas pelo tripé planeta, pessoas e lucro. Abaixo, alguns conceitos que podem ajudar nesta discussão:

  • Todos na equipe são partes interessadas. Os líderes devem enxergar seus colaboradores não apenas como um meio, mas como parceiros verdadeiramente engajados com o futuro da corporação e da sociedade. O marketing Human to Human (H2H), que promove o estreitamento das relações por pessoas e para pessoas, ganha ainda mais evidência nos tempos atuais. Lembre-se: a razão pela qual os robôs nunca poderiam substituir os humanos integralmente é que eles, justamente, não constroem relacionamentos.
  • ESG significa comprometimento. As boas práticas ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) resultam em menores impactos e na redução de riscos para o negócio, norteando toda a agenda empresarial. Por isso é do interesse de todos os stakeholders.
  • Superar problemas, com transparência e verdade. Durante o período crítico da pandemia, o setor privado foi capaz de fornecer soluções para desafios como o acesso falho à saúde, além de problemas comunitários como a insegurança alimentar e a escassez de água. As indústrias farmacêuticas, por sua vez, criaram as vacinas. E as empresas de tecnologia estiveram engajadas no desenvolvimento de aplicações para que pudéssemos trabalhar, aprender, fazer compras e nos exercitar em casa, entre outras atividades do nosso dia a dia atual. Enfim, estes são apenas alguns exemplos do enorme potencial das organizações para a evolução da sociedade. E vale lembrar: o setor privado, mais uma vez, como vem acontecendo desde o alvorecer do Capitalismo, tem sido o motor principal das soluções para que a humanidade enfrente e supere os seus desafios e limitações. Só que dessa vez, aparentemente, começamos a entender a importância de focar cada vez mais em pessoas e na natureza, para alcançarmos este intento. Ou seja: ao fundir de modo estratégico as demandas que se apresentam com a cultura empresarial e os princípios ESG, seremos capazes de oferecer melhores resultados para todos que habitam em nosso planeta. E, felizmente, não haverá mais espaço para o greenwashing, a chamada maquiagem verde, prática que levou algumas empresas a camuflar, mentir ou omitir informações sobre os seus reais impactos ao meio ambiente, utilizando propaganda enganosa — o que é inaceitável.
  • Circularidade em pauta. Presenciaremos cada vez mais o upgrade de processos empresariais, que irão incorporar formatos circulares de produção, distribuição e consumo, permitindo que os recursos sejam utilizados de forma mais eficiente. Um dos caminhos é a melhoria da taxa de reciclagem, que permite um aumento da quantidade e qualidade das matérias-primas secundárias. Mas não só: a circularidade também tem potencial para elevar a rastreabilidade e a resiliência das cadeias de valor, por meio de inovações tecnológicas como a IA (inteligência artificial), a Internet das Coisas (IoT) e o Big Data. O conceito pode, inclusive, ser impulsionado pela propagação de soluções centradas na Indústria 4.0.
  • Inteligência artificial para o bem comum. Cada vez mais, é preciso que as organizações explorem as soluções apresentadas por máquinas para remediar problemas de alta complexidade, com grandes quantidades de dados. De fato, a IA pode alavancar os esforços globais para proteger o meio ambiente e preservar recursos, por exemplo, ao identificar reduções de emissão de energia, monitorar o desmatamento e prever condições climáticas extremas. Mas não apenas: a robótica também pode ser aliada da agricultura de precisão e das cadeias de suprimentos sustentáveis. Em resumo, a inteligência artificial tem potencial de tornar os sistemas mais produtivos para a economia. E pode ajudar fortemente na preservação do meio ambiente e dos ecossistemas.
  • Políticas de trabalho mais flexíveis. A pandemia da Covid-19 alterou os processos de recursos humanos como um todo. Os líderes da atualidade devem criar um ambiente que atenda aos anseios dos indivíduos que vivem nesta nova realidade. O objetivo de aumentar a produtividade deve ser norteado pelo bem-estar e pela integridade da pessoa humana. Na raiz do processo, estão normas que agora encontram maior flexibilidade. Gerentes devem administrar resultados e não horários. Para isso, programas de apoio à saúde mental e bem-estar dos colaboradores são imprescindíveis, assim como uma postura mais empática. As pessoas são o ativo mais importante de uma empresa. É crucial, portanto, que as organizações se concentrem em sua força de trabalho e permitam que cada trabalhador libere seu ímpeto, criatividade e talento, visando o melhor aproveitamento das oportunidades, para benefício de todos.

*Por Felipe Leonard, CEO e presidente da S.I.N. Implant System.

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Redação tecflow

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