Radiotelescópio brasileiro: parceria promove atividades de divulgação de ciência e astronomia em escolas do sertão da Paraíba

A ciência não pode ficar restrita aos laboratórios e centros de estudo e pesquisa. E é com esse pensamento que os responsáveis pelo radiotelescópio BINGO, o primeiro do Brasil, pretendem levar conhecimento também aos moradores e estudantes de Aguiar, no sertão paraibano, onde a tecnologia está sendo implementada. Para isso, os coordenadores estabeleceram uma parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

A ideia é que estudantes de física e comunicação da instituição visitem as escolas da cidade e de municípios vizinhos para falar de astronomia, tecnologia e do BINGO em si, explica Élcio Abdalla, coordenador do projeto e professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). 

“Essas atividades em Aguiar-PB já aconteciam antes da pandemia. Eram um sucesso. Foram interrompidas durante a pandemia e agora estão sendo retomadas. A ideia é que as visitas às escolas sejam periódicas. E alguns eventos já estão ocorrendo: semana passada foram realizadas duas atividades em um parque em Campina Grande e na praça da Bandeira, por exemplo, e daqui a duas semanas irão ocorrer atividades em João Pessoa também”, comenta o Professor Amilcar Queiroz.

Nessas apresentações, mini-cornetas foram usadas para servir de exemplo de funcionamento de um radiotelescópio. “As mini-cornetas são de fato mini radiotelescópios e é através delas que conseguimos explicar de forma prática, visível e lúdica como é o funcionamento de um radiotelescópio”, comenta o professor.

O radiotelescópio BINGO – acrônimo para Baryon Acoustic Oscillations from Integrated  Neutral Gas Observations (em tradução livre, Oscilações Acústicas Bariônicas em Observações Integradas de Gás Neutro) –  vai explorar novas possibilidades na observação do universo a partir do céu brasileiro. “A proposta é estudar a energia escura e também o fenômeno Fast Radio Bursts [“rajadas rápidas de rádio”, em tradução livre], ainda pouco conhecido e estão entre os fenômenos mais energéticos do Universo. Emitem, por vezes em milissegundos, o equivalente a toda produção de energia pelo Sol em três dias”, conta Elcio.

Apelidado de “diamante do Sertão”, contribuirá com a visão do Hemisfério Sul para um trabalho sobre o fenômeno que já vem sendo realizado por meio do Chime (Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experiment) no Hemisfério Norte.

“O BINGO vai além da construção de um radiotelescópio ao contemplar os três pilares do trabalho da Universidade: pesquisa, ensino e extensão”, afirma Abdalla. A parte de despertar o interesse da população local em astronomia tem a ver com um dos pontos menos teóricos do projeto: a realização de aulas de ciências nas escolas de Aguiar e redondezas. O professor justifica essa faceta do planejamento.

“O assunto não é necessário apenas para a comunidade científica, mas para a população em geral. Não podemos simplesmente falar para doutores, temos que colocar as pessoas a par, já que são elas que pagam pela nossa pesquisa. O ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] do pãozinho vai para esse trabalho também. Então nós temos, até como obrigação, contribuir para um desenvolvimento real e mostrar ao cidadão que a ciência é importante, que a ciência muda o mundo”.

Projeto multinacional e multidisciplinar

O chamado “setor escuro do Universo” estará no foco das descobertas. No sertão, longe da poluição eletromagnética, será possível saber mais sobre estruturas desconhecidas da galáxia, pulsares que ainda precisam de observação e perceber novos sinais do espaço. Abdalla observa que “cerca de 95% do conteúdo energético do universo é completamente desconhecido, e o BINGO olhará para a distribuição detalhada da matéria conhecida para verificar os vínculos do setor escuro”. 

O professor explica que a melhor maneira de estudar o universo e testar teorias cosmológicas é pela observação: “Um lado escuro do universo, cuja existência não desperta mais nenhuma dúvida, clama por uma dinâmica, tal como houve essa necessidade décadas atrás para a Teoria dos Campos [teoria da física que estuda como os campos físicos interagem com a matéria].”

Saber o que as estrelas significam, como são suas estruturas e em que isso interfere na nossa própria posição no mundo e no universo, são algumas das motivações do BINGO. E essas não são justamente algumas das perguntas que movem o ser humano quando se entra no mérito de quem somos, de onde viemos, onde estamos e para onde vamos?

O projeto conta com pesquisadores do Brasil, da China, África do Sul, Reino Unido, Estados Unidos, Portugal, França e Uruguai que, em conjunto e à distância, pensam em soluções relacionadas à astrofísica e também à construção civil – afinal, é preciso esforço para colocar um radiotelescópio desse tamanho em pé.

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Marciel

Formado em jornalismo, o editor atua há mais de 10 anos cobrindo notícias referente ao mercado B2B. Porém, apesar de toda a Transformação Digital, ainda prefere ouvir música em disco de vinil.

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