* Bruno Rezende é CEO da 4intelligence
O desenvolvimento aberto e colaborativo de software não é novidade. Talvez o caso mais emblemático desse modelo, o Linux, tenha começado a ser desenvolvido de maneira despretensiosa no início da década de 90 por um estudante finlandês chamado Linus Torvalds. De acordo com sua autobiografia (Just for Fun: The Story of an Accidental Revolutionary) o Linux derivou de um projeto pessoal de Linus, que se tornou público em meados de 1991. Na ocasião, o desenvolvedor fez uma postagem em um popular fórum dos primórdios da internet, a Usenet, contando à comunidade sobre o desenvolvimento e pedindo colaboração em forma de críticas e sugestões. Nos anos que se seguiram, com o engajamento voluntário de milhares de desenvolvedores, o Linux se tornaria um dos principais sistemas operacionais do mundo, totalmente livre e presente em milhões de dispositivos.
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Durante muito tempo o ecossistema de soluções open source, ou de código aberto, foi visto como inimigo número um das empresas de software privado. Em 2001, o CEO da Microsoft à época, Steve Ballmer, se referiu ao Linux com um câncer a ser combatido, enquanto o cofundador da Microsoft Bill Gates fez duras críticas à GPL (General Public License), licença de software livre lançada em 1989 e idealizada por outro ícone do mundo do código aberto, Richard Matthew Stallman. Ainda hoje, a GPL regula a utilização de boa parte dos softwares livres desenvolvidos e publicados no mundo. Mas essa longa briga capitaneada destacadamente pela Microsoft parece ter chegado ao fim. Como diz o ditado: “Se não pode vencê-los, junte-se a eles”.
Em 2021, o mundo não poderia ser mais diverso daquele do início da década de 90 para o desenvolvimento de software. Hoje em dia, é praticamente impossível encontrar uma empresa de tecnologia que não use, desenvolva ou apoie iniciativas de código aberto. O próprio Steve Ballmer, agora ex-CEO da Microsoft, se retratou pelos comentários acerca do Linux, enquanto a Microsoft acenou com maior abertura para as inovações oriundas dessa comunidade. As razões para esse fenômeno são várias, mas entendo que possam ser resumidas em três características do desenvolvimento open source contemporâneo: fartura de capital, modularidade e exponencialidade da inovação, com o primeiro sendo atraído pelos seguintes.
Do ponto de vista do capital, foi-se o tempo em que tecnologias de código aberto eram totalmente desenvolvidas com trabalho voluntário. Ainda que os desenvolvedores não pagos tenham força e papel fundamental para o sucesso dos projetos, a enxurrada de capital aportado por big techs e fundos de venture capital através de startups catapultou o desenvolvimento em código aberto para outro patamar. Hoje é cada vez mais comum para uma empresa de tecnologia criar algum software ou componente para resolver um problema interno e abrir a solução para a comunidade, colocando-se muitas vezes como mantenedora principal. E essa é apenas uma das muitas formas com que empresas de tecnologia têm se relacionado com o open source.
Essa fartura de capital justifica-se pela combinação de duas outras características: modularidade e exponencialidade. A importância da primeira está ligada a uma necessidade crescente de integração e customização em escala. Os ambientes digitais de grandes empresas têm se tornado incrivelmente complexos para soluções fechadas e verticalizadas, e incrivelmente caros para soluções totalmente customizadas. Neste contexto, a introdução do open source como parte do stack tecnológico de grandes empresas, ou componente de softwares ou serviços proprietários, pode trazer soluções muito mais aderentes com a nova realidade.
Adicionalmente, o desenvolvimento colaborativo imprimiu um ritmo de inovação tecnológica nunca visto. Hoje temos milhares de desenvolvedores, entusiastas e empregados em tempo integral empurrando a fronteira tecnológica. E graças à já citada capacidade de modularização da maioria dessas tecnologias em todas as etapas de desenvolvimento, o ritmo torna-se exponencial, pois combinam-se inovações para entregar valor cada vez maior e empilham-se inovações para entregar valor cada vez mais rápido.
Tudo isso não significa que o desenvolvimento proprietário de software acabou, muito pelo contrário. Ele amadureceu, mudou e de certa forma se fundiu com o desenvolvimento em código aberto. O futuro é híbrido. Seja como usuário final, apoiador ou desenvolvedor, certamente seu negócio será impactado por essa forma de se construir e consumir software.
* Bruno Rezende é CEO da 4intelligence, startup de soluções que apoiam a tomada de decisão por meio da análise de dados.
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Redação tecflow
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