Cresce o número de negros universitários, mas eles ainda são minoria em cargos de chefia nas empresas

A desigualdade social é um dos mais complexos desafios da economia mundial e envolve a diferença de oportunidades entre grupos específicos. No mês de março, as discussões giram em torno da luta pela eliminação da desigualdade racial, problema estrutural que persiste e revela a fragilidade de políticas públicas para o seu enfrentamento. No campo educacional, no entanto, é possível enxergar um panorama positivo.  Entre 2010 e 2019, o número de alunos negros no ensino superior cresceu quase 400%, chegando a 38,15% do total de matriculados, de acordo com o site Quero Bolsa.  Mas o percentual ainda é baixo se considerada a representatividade no conjunto total da população de 56%.

Mesmo com o crescimento da entrada de estudantes negros nas faculdades e universidades do país, aqueles que conseguem se formar enfrentam o desafio de conseguir exercer a sua profissão quando chegam no mercado formal de trabalho. No Brasil, 37,9% dos homens e 33,2% das mulheres negras com diploma de ensino superior trabalham em cargos que não exigem o diploma, segundo pesquisa de 2020 do Instituto iDados usando informações do IBGE.

“Maioria dos pretos e pardos com ensino superior têm posições operacionais e técnicas, ou seja, a mão de obra negra qualificada ainda tem dificuldades de encontrar um emprego correspondente ao seu grau de instrução”, explica o professor de economia da Una, Mussa Vieira.

Se a análise abranger os cargos de chefia, os trabalhadores negros têm participação reduzida em posições de média e alta gestão. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostram que 31% dos cargos de diretoria são ocupados por pessoas negras, enquanto os não negros somam 69%. “E a pouca representatividade em cargos de liderança gera o fenômeno de salários menores. De acordo com o Instituto Locomotiva, com a mesma formação superior, homens negros têm uma renda média mensal de R$ 4.990,00, enquanto os não negros possuem remuneração média mensal de R$ 7.286,00, ou seja, uma diferença salarial de 46,01%”, ressalta o professor.  

Racismo estrutural

“O ponto que enxergo como positivo é que cada vez temos mais espaço para discussões sobre igualdade racial, seja dentro das empresas, seja dentro das universidades. E o dia 21 é uma oportunidade de reflexão sobre as relações raciais no Brasil, tendo em vista a desigualdade que ainda coloca a população negra em lugar de desvantagem em diversas instâncias, como educação e trabalho. Mesmo com um longo caminho a trilhar, o fato de termos um olhar voltado a essas questões já nos abre um bom leque de possibilidades. O racismo estrutural é fruto da própria estrutura social, de modo com que se constituem as relações políticas, econômicas, judiciais e até familiares”, destaca Mussa.

Segundo ele, a desigualdade identificada no mercado de trabalho tem diferentes razões, todas elas motivadas pelo racismo estrutural, que impõe diferenças em diversos aspectos da vida de pessoas brancas e pretas, como acesso à educação e trabalho. 

“Para que essa estrutura se rompa, é preciso que as ações afirmativas para o mercado de trabalho estejam presentes em todos os níveis de vagas. É necessário pensar a proporcionalidade de maneira hierárquica. Enquanto não tivermos profissionais negros em cargos de liderança, não conseguiremos fazer com que essas ações ganhem uma proporção no longo prazo. Já chega de ver o negro como membro da sociedade para atores coadjuvantes, prática de futebol e música. Os negros têm capacidade para ocupar cargos do executivo de grandes empresas, médicos, jornalistas e professores universitários” conclui Mussa Vieira.

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Marciel

Formado em jornalismo, o editor atua há mais de 10 anos cobrindo notícias referente ao mercado B2B. Porém, apesar de toda a Transformação Digital, ainda prefere ouvir música em disco de vinil.

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