Futuro do trabalho: Maior parte dos trabalhadores brasileiros aposta no trabalho remoto e não teme perder emprego para robôs, diz pesquisa

Mais de um terço dos trabalhadores foram afetados pela sobrecarga de informações no home office. No entanto, em um cenário em que a maioria das pessoas aposta no modelo remoto daqui em diante, o salário, flexibilidade e autonomia lideram o ranking de satisfação no trabalho. Além disso, uma grande parte dos brasileiros afirma já possuir as habilidades necessárias para o futuro do trabalho e mesmo com os avanços da tecnologia, não teme perder o emprego para robôs.

Os dados são parte da pesquisa inédita “Futuro do Trabalho: onde estamos e para onde vamos”, realizada pela plataforma Futuros Possíveis em parceria com o Opinion Box, com o objetivo de entender os hábitos presentes na vida dos brasileiros em relação ao trabalho. O estudo investigou ainda os reflexos da pandemia nas vidas das pessoas de março de 2020 até 2023.

Entre as principais mudanças sentidas pelos profissionais ouvidos pela pesquisa, a maioria disse ter passado a trabalhar em casa e feito adaptações para melhorar a experiência do trabalho remoto (24% e 23%, respectivamente).

Considerando apenas o período a partir de 2021, os principais acontecimentos profissionais nas vidas das pessoas envolveram a participação de processos seletivos sem ter retorno dos potenciais empregadores, e o início de projetos próprios visando novas fontes de renda. Segundo a pesquisa, 43% das pessoas desligadas saíram de seus empregos anteriores em demissões em massa.

Destas, 78% afirmaram não terem recebido nenhum tipo de apoio do empregador. Nesta parcela de demitidos em massa, o percentual chega a 85% no caso das mulheres, o que corrobora a constatação de que o público feminino foi o mais impactado por demissões deste tipo nos últimos anos.

O levantamento ouviu 2.170 profissionais via internet em fevereiro deste ano, sendo homens e mulheres a partir de 16 anos, de norte a sul do país, de todas as classes sociais. A amostragem se espelha no estudo TIC 2019/2020 de domicílios com acesso à internet, portanto, reflete a realidade do Brasil conectado. A margem de erro da pesquisa é de 2,1 pontos percentuais.

“O estudo traz um panorama abrangente sobre as percepções das pessoas sobre o passado e o presente da forma em que trabalham, e um olhar para aspectos importantes do que vem por aí”, diz Angelica Mari, CEO e cofundadora da Futuros Possíveis.

“Os achados apontam para o fato de que há uma constatação (e uma certa desorientação) sobre a necessidade que profissionais têm de se equipar para o futuro de suas carreiras. Ao mesmo tempo, um tema prevalente na análise é a humanização das relações de trabalho”, acrescenta.

A pesquisa mapeou os principais obstáculos para que as pessoas consigam um trabalho atualmente. Entre os desempregados, 34% relataram não ter a experiência que as vagas exigem. Outras barreiras citadas incluem a percepção de que processos seletivos são muito complexos e demorados, um entrave citado por 15% das pessoas entrevistadas, e vagas com salários e benefícios insatisfatórios.

Para virar o jogo, o investimento em educação corporativa será essencial para que os profissionais consigam se preparar para as mudanças do mercado e também para que possam suprir as novas necessidades dos negócios. A perspectiva é de Rômulo Martins, diretor de educação corporativa na Gupy, HRtech que oferece um ecossistema de soluções para o RH que inclui Recrutamento e Seleção, Admissão, Educação Corporativa, Clima e Engajamento, e patrocinadora do estudo.

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“A educação corporativa vem se tornando uma das principais estratégias para a qualificação e requalificação de pessoas colaboradoras, o que possibilita desde capacitações para desenvolver as habilidades necessárias em pessoas recém contratadas até treinamentos contínuos para que os profissionais se desenvolvam junto com os negócios”, aponta o executivo.

“Isso possibilita que as empresas contratem talentos que não tenham todos os pré-requisitos, para poder desenvolvê-los da maneira que precisam”, ressalta.

Maioria endossa o trabalho presencial, mas aposta no remoto para o futuro

Segundo a pesquisa, 67% das pessoas dizem trabalhar atualmente no modelo totalmente presencial. Quando perguntadas se elas pudessem escolher, 50% endossaram o regime totalmente ou principalmente presencial, contra 31% que optariam pelo modelo totalmente ou principalmente remoto. Os principais motivos que explicam a predileção pelo trabalho in loco nas empresas são: aumento da produtividade (27%); comunicação facilitada (25%) e o interesse pela interação social com os colegas (24%). Também foram mapeados os motivos pelos quais as pessoas preferem o trabalho remoto e as alterações feitas nas casas para melhorar essa experiência.

Apesar da conclusão pró-trabalho presencial atual, os profissionais se mostraram confiantes de que, no futuro, o modelo predominante será o remoto: 46% das pessoas entrevistadas disseram concordar com esta previsão, mais do que o dobro daquelas que afirmaram discordar (22%).

E mais: a maioria das pessoas entrevistadas concordam que as empresas não estão prontas para o modelo híbrido.

Maioria não teme perder emprego para robôs

Na contramão das previsões apocalípticas, 61% das pessoas consultadas para a pesquisa acham que a tecnologia não será capaz de eliminar seus empregos. Pelo contrário: 77% acham que o avanço tecnológico não é uma ameaça à carreira em seu setor de atuação, e 69% acreditam que as soluções tecnológicas vão tornar o trabalho mais rápido e eficiente. Além disso, 61% concordam que o trabalho não será substituído por uma tecnologia, e sim por outros profissionais que a utilizam. O otimismo em relação ao avanço tecnológico é corroborado pela percepção de que a maioria (49%) discorda que suas profissões vão sumir daqui a 20 anos.

93% dizem ter as habilidades para o trabalho do futuro

O estudo concluiu que as pessoas estão otimistas em relação à capacidade de atender às exigências do trabalho do futuro, tanto no que se refere a habilidades técnicas quanto socioemocionais (autonomia, criatividade e empatia). Entre as pessoas consultadas para a pesquisa, 93% acreditam ter as competências para se manterem empregadas no futuro, sendo que 87% dizem priorizar a preparação para os desafios futuros do mercado de trabalho. A maioria (79%) afirmou ter tempo para se qualificar para tal, e para 69% só estudar não é suficiente para se preparar para o futuro do trabalho.

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Porém, na análise feita por faixa etária, o grupo entre 30 e 49 anos é o que afirmou ter menos tempo para se qualificar, e em relação ao grupo socioeconômico, os entrevistados das classes CDE disseram ter mais disponibilidade para se preparar para o futuro (80% afirmou ter ter tempo para isso) do que as classes AB (77%).

“O estudo mostra que as pessoas se veem co-responsáveis pelo seu desenvolvimento profissional. De fato, considerando as complexidades que temos no Brasil, dizer que profissionais precisam desenvolver múltiplos potenciais e que elas são as únicas responsáveis por suas carreiras é incoerente”, diz Andreza Maia, CPO e cofundadora da Futuros Possíveis.

“Ser autêntico, protagonista e pensar no avanço da própria carreira passa por um privilégio social de quem teve acesso a recursos que fomentam esta visão de mundo. Muitas vezes, esta não é a realidade das periferias”, pontua.

Na busca por emprego, 7 em cada 10 consideram trabalhar para empresas de fora sem sair do Brasil

O conceito de trabalho sem fronteiras também foi tema da pesquisa, a primeira no Brasil a investigar essa frente de forma tão ampla. De acordo com o levantamento, 70% das pessoas que disseram estar procurando emprego já consideraram trabalhar para empresas de fora do Brasil de maneira remota, mas 59% do contingente que tem esse interesse não sabem o que fazer para serem encontradas por possíveis recrutadores internacionais. Entre os que consideram a possibilidade de trabalhar para empregadores de fora do Brasil, o desconhecimento sobre como entrar no radar das empresas chega a 64% quando consideramos as mulheres e vai para 52% no caso dos homens. O cenário muda bastante no recorte por classe social: enquanto 75% das pessoas das classes AB sabem o que fazer para serem encontradas por estes recrutadores, nas classes CDE o índice despenca para 39%.

A pesquisa investigou também os motivos pelos quais as pessoas não consideram trabalhar remotamente para empresas de fora do Brasil, e os três principais motivos apontados foram: falta de fluência em outros idiomas (37%), falta de incentivo (23%) e medo de arriscar empatado com desinteresse (ambos com 19%).

Outro aspecto abordado no estudo é se a possibilidade de mudar do Brasil para trabalhar influencia a busca por um novo emprego. Para 50%, sim. Essa possibilidade tem mais relevância para os homens (58%) do que para as mulheres (45%) e as classes CDE (51%) em comparação com AB (44%).

“Pela pesquisa, podemos ver que as pessoas estão aos poucos amadurecendo o conceito de trabalho remoto e entendendo as suas vantagens, entre elas poder trabalhar de e para qualquer país”, destaca Fernanda Brunsizian, head de comunicação da Atlas, HRtech que possibilita a contratação de pessoas de qualquer lugar do mundo, e patrocinadora do capítulo da pesquisa que discute o trabalho sem fronteiras. “As empresas que já entenderam essa tendência estão criando equipes multiculturais e abrindo espaço para a inovação,” acrescenta a executiva.

Salário, flexibilidade e autonomia lideram o ranking de satisfação no trabalho

Entre as pessoas consultadas para a pesquisa, 74% concordam que a satisfação no trabalho vai muito além do salário, que lidera o ranking de fatores mais importantes para os profissionais, com 40% das respostas. Na sequência aparecem a flexibilidade de horários, autonomia para exercer a função na empresa e a possibilidade de crescer na carreira, respectivamente, com 31%, 30% e 23%, nas preferências das pessoas. Em contrapartida, ter um plano de carreira aparece com 18% das preferências e ter um contrato de trabalho CLT é o desejo de apenas 14%.

“É interessante ver que a flexibilidade de horários e a autonomia aparecem em segundo e terceiro lugares no ranking de satisfação no trabalho. Não coincidentemente, diante dessa realidade, o desejo de ter estabilidade via contrato CLT ficou em segundo plano”, diz Marcelo Gripa, COO e cofundador da Futuros Possíveis.

“A partir deste raio-x, as empresas podem aprimorar suas estratégias de retenção de talentos e contribuir efetivamente para a melhoria de qualidade de vida das pessoas”, completa.

Outro achado aponta para a necessidade de as empresas construírem ambientes psicologicamente mais seguros: 84% das pessoas concordam que as companhias precisam investir mais na saúde mental dos funcionários. O percentual chega a 88% quando olhamos apenas para as mulheres, público que, geralmente, precisa encarar a dupla jornada de trabalho, conciliando o emprego remunerado com cuidados de pessoas ou afazeres domésticos. Na avaliação dos homens, a taxa de concordância sobre a necessidade das empresas investirem em saúde mental é de 79%.

“Antes o RH buscava os talentos, hoje os talentos escolhem as empresas com base não somente no salário, mas na sua própria satisfação e crescimento profissional, conforme aponta a pesquisa”, diz Beatriz Bevilaqua, cofundadora e apoiadora da Futuros Possíveis.

“Por outro lado, as mulheres seguem tendo também mais desafios para ter satisfação no trabalho e exercer cargos de liderança. Há muito o que fazer para um futuro mais inclusivo e com mais equidade de gênero de oportunidades entre as mesmas carreiras”, ressalta.

Apesar do frisson causado pelo ChatGPT, há muito espaço para o amadurecimento do uso de soluções avançadas de tecnologia

Segundo a pesquisa, o avanço tecnológico nas empresas precisa caminhar junto à capacitação dos times. Entre os profissionais ouvidos para o estudo, 64% afirmaram que a empresa onde trabalham é orientada por tecnologia em alguma medida. A pesquisa também mapeou a adoção tecnológica nas empresas do ponto de vista dos trabalhadores. Segundo os respondentes, abordagens como inteligência artificial, big data, e participação no metaverso estão entre as menos utilizadas atualmente nas empresas (21%, 19% e 11%, respectivamente). Por outro lado, quando o assunto é o uso de ferramentas para fazer avaliações de experiência do cliente, estabelecer comunicação via chat online em tempo real e o uso de pesquisas de mercado, os resultados são melhores (45%, 43% e 37%, respectivamente).

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Marciel

Formado em jornalismo, o editor atua há mais de 10 anos cobrindo notícias referente ao mercado B2B. Porém, apesar de toda a Transformação Digital, ainda prefere ouvir música em disco de vinil.

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