(*) Por Rafael Oneda
Fusões e aquisições geradas pelos movimentos dos negócios de grandes Grupos Investidores, Big Techs e Corporações de nove a 12 dígitos em seus faturamentos não são novidades. Um levantamento da GlobalData, consultoria de análise de dados, aponta que em 2023 foram negociados US$ 2,2 trilhões em valor de fusões e aquisições ao redor do mundo – apesar de ser o menor número em cinco anos, é bastante significativo.
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Embora algumas dessas fusões e aquisições produzam impacto prático mínimo ou insignificante no ambiente de negócios, outras geram mudanças intensas no cenário, reorganizando o mercado de formas inesperadas. Um exemplo recente é a finalização da compra da VMWare pela Broadcom, fabricante de semicondutores.
As notícias dessa negociação já vinham causando alerta e inquietação no mercado de TI desde 2022, quando o Gartner[1] publicou uma série de previsões pessimistas sobre o futuro da VMWare sob o comando da Broadcom, incluindo, dentre várias outras, o aumento expressivo de preços e redução da inovação.
As previsões do Gartner não são meras conjecturas, mas deduções lógicas fundamentadas no histórico de aquisições de empresas por parte da Broadcom. O estudo do comportamento da Broadcom em aquisições anteriores revela um padrão claro e recorrente.
Claramente a estratégia da Broadcom consiste em adquirir companhias com grande presença no mercado (Market Share), pouca concorrência e alta capacidade de ‘vendor lock-in’, ou seja, aprisionamento tecnológico. Aqui não trago julgamento – é apenas minha constatação e opinião pessoal – mesmo porque negócios de sucesso devem ser respeitados!
Um exemplo notável é a aquisição da CA Technologies pela Broadcom em 2018. A CA Technologies, renomada empresa de software, estava entre as 100 empresas de tecnologia mais relevantes do mundo[2] no momento da sua aquisição. O mercado expressou perplexidade com essa transação[3], já que, estrategicamente, não parecia fazer sentido uma empresa de semicondutores adquirir uma empresa de software. Logo após a operação de compra, a Broadcom anunciou que focaria apenas nos 500 maiores clientes, que desinvestiria de parte do portfólio da CA, descredenciou parceiros, demitiu funcionários em massa e aumentou preços de forma abrupta. Logo a CA Technologies sumiu do mercado.
No ano seguinte, a história se repetiu com a aquisição da Symantec, um dos principais fabricantes de soluções de segurança cibernética do mundo. Novamente, houve um foco em poucos clientes, desinvestimento em parte do portfólio, redução de investimento em pesquisa e desenvolvimento, demissões, aumentos de preços e, consequentemente, o quase desaparecimento da empresa para o mercado.
Agora, é a vez da VMWare. Já foram anunciadas alterações nos pacotes e nos preços dos produtos, descredenciamento em massa de revendas e canais de distribuição, cancelamento de acordos de OEM com gigantes como Dell, HPE e Lenovo, além da limitação da cobertura de vendas diretas a um número extremamente reduzido de clientes, entre outras medidas.
Considerando que a VMWare possui um universo de mais de 500 mil clientes ao redor do mundo, sendo 0,4% sediados no Brasil, a possibilidade de alguma empresa brasileira fazer parte deste seleto grupo é bastante remota. Ademais, um aumento significativo nos preços já foi observado, com relatos de clientes enfrentando acréscimos que ultrapassam os 400% nas cotações de renovações e/ou ampliações.
A situação é ainda mais complicada por uma série de incertezas que pairam sobre o futuro. Isso inclui o destino dos produtos da VMWare, especialmente após a venda de sua divisão EUC[4], que inclui o Horizon e o Workspace One. Questões também surgem acerca das parcerias estratégicas, como a que possui com a Dell, que oferece a linha VXRail fundamentada na tecnologia VMWare VSAN. A incerteza se estende à própria continuidade operacional da VMWare no Brasil, tendo em vista precedentes com empresas como a CA e a Symantec, o que sugere que um desfecho similar para a VMWare não é um cenário descartável.
Em última análise, as estratégias adotadas pela Broadcom, especialmente em suas aquisições, refletem uma abordagem voltada para maximizar margens, o que pode ser altamente atrativo para os investidores, porém resulta em consequências consideravelmente adversas para os clientes das empresas adquiridas. Diante disso, é importante destacar que há excelentes alternativas no mercado à VMWare. Essas opções devem ser analisadas não apenas como uma medida reativa às práticas de mercado, mas como uma estratégia proativa para garantir autonomia tecnológica, otimizar custos e assegurar a resiliência operacional.
Em meio a esse cenário de incertezas e oportunidades, adaptar-se e escolher com sabedoria é vital para manter a continuidade dos negócios.
(*) Rafael Oneda é diretor técnico da Approach Tecnologia
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Redação tecflow
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