O Brasil, conhecido por ter uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, deverá ver um avanço significativo nas fontes renováveis nos próximos quatro anos. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a expectativa é que as fontes solar, eólica e biomassa ultrapassem as hidrelétricas e representem 51% da capacidade instalada de geração elétrica do país em 2029 — atualmente, esse índice é de 44,4%. Já a participação das hidrelétricas deve cair de 45,9% para 41,5%.
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Esse movimento é impulsionado por uma série de fatores, como a diminuição da confiabilidade das hidrelétricas diante da queda no volume de chuvas e da vazão dos rios, além do avanço tecnológico e dos investimentos bilionários no setor. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, estima que R$ 255 bilhões serão investidos em projetos renováveis em todo o país nos próximos anos.
Brasil ampliará uso de fontes renováveis e terá matriz elétrica
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O crescimento das fontes alternativas é celebrado por ambientalistas, especialmente em um ano de forte simbolismo para o país: em novembro, o Brasil sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém (PA).
Novas apostas: baterias e hidrogênio verde
Além das já consolidadas usinas solares e eólicas, novas frentes tecnológicas ganham espaço, como o hidrogênio verde e os sistemas de armazenamento de energia. O governo federal deve realizar ainda este ano o primeiro leilão para compra de baterias, que são essenciais para estabilizar a geração intermitente de energia solar e eólica.
A Eletrobras, principal geradora de energia renovável do país, já investe R$ 2,4 bilhões na construção de um parque eólico em Sant’Ana do Livramento (RS), com capacidade para abastecer 1,5 milhão de consumidores. A companhia também desenvolve projetos solares associados a usinas eólicas e hidrelétricas, além de estudos para uso de baterias e produção de hidrogênio verde.
Setor privado impulsiona expansão
Outras empresas do setor seguem ampliando sua presença nas fontes limpas. A Helexia, do Grupo Voltalia, investe R$ 1,2 bilhão em projetos solares em diferentes estados. Já a Enel Green Power, com novas instalações na Bahia e em Minas Gerais, dobrou sua capacidade de geração no país.
A Energisa, por sua vez, opera 117 usinas solares em nove estados e prevê investimentos de R$ 215 milhões em 2025. A empresa também aposta no reaproveitamento de resíduos agropecuários para produção de biogás e biometano, com uma nova instalação em Campos Novos (SC), ao custo de R$ 100 milhões.
Até companhias do setor de combustíveis fósseis, como a Acelen, estão investindo em renováveis. A empresa vai construir um parque solar na Bahia e pretende aplicar até US$ 3 bilhões em biocombustíveis produzidos a partir da macaúba, planta nativa que será cultivada em áreas degradadas de Minas Gerais e Bahia.
Desafios e impacto socioambiental
Apesar dos avanços, especialistas e ambientalistas apontam entraves que ainda precisam ser superados. Segundo o diretor-geral do ONS, Márcio Rea, será necessário flexibilizar a operação das hidrelétricas, hoje fundamentais para garantir o equilíbrio do sistema elétrico nacional.
Além disso, há críticas à forma como a expansão das usinas eólicas e solares ocorre, principalmente no Nordeste. De acordo com o Greenpeace Brasil, comunidades locais relatam impactos negativos, como poluição sonora, danos à biodiversidade e conflitos territoriais com empresas do setor.
— A expansão de usinas eólicas e solares se deu de forma conturbada em alguns estados, com prejuízos à saúde e abuso contratual de famílias vulneráveis — afirma Rárisson Sampaio, porta-voz da organização.
Mesmo diante desses desafios, o Brasil caminha para consolidar sua posição de liderança global em energia limpa, com uma matriz cada vez mais diversa, sustentável e menos dependente de fontes hídricas.
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