Entregar taxas de transmissão 10 a 100 vezes mais rápidas que as atuais é apenas uma das incontáveis promessas que o 5G pretende cumprir quando estiver operacional – há a intenção de iniciar a implantação pelas grandes capitais a partir de julho de 2022.
O relatório de mobilidade 2019 da Ericsson estima que, até 2025, o 5G represente por 11% das assinaturas móveis da América Latina – bem abaixo do que se espera de EUA (74%), Nordeste Asiático (56%) e Europa Ocidental (55%).
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Qualquer estimativa mais realista sobre o início da operação desta tecnologia no Brasil, no entanto, depende do leilão das frequências – são como ‘estradas aéreas’ por onde trafegam os dados – nas faixas de 700 MHz; 2,3 GHz; 3,5 GHz e 26 GHz.
Neste momento, todo o processo está sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU) após a finalização do edital pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). As operadoras aguardam a resolução de conflitos sobre pontos do edital para participar do certame, avaliado hoje em R$ 35 bilhões.
Apesar de pesquisas como a da Omdia para a Nokia estimarem que o 5G pode representar um acréscimo acima de US$ 1 trilhão no PIB do Brasil até 2035, a acalorada discussão sobre as regras e obrigações do edital mostram a complexidade de se implantar essa tecnologia em um país continental e ainda defasado neste tipo de tecnologia.
Vale lembrar que a única rede móvel presente em todos os 5.570 municípios brasileiros é a 2G, seguida de perto pela 3G – considerada a rede predominante do país. O 4G segue em franca expansão, mas ainda há um grande caminho não só para usuários, mas também para as teles, que precisam recuperar o investimento feito nessas estruturas.
Considerando esse desafio, convidamos dois especialistas do Grupo Prysmian, líder mundial na fabricação de cabos de energia e de telecomunicações, sendo um dos principais fornecedores do mercado de telecom, para comentar quais as principais tendências e mudanças que o 5G deve tornar mais comuns nos próximos anos:
Transformação da conectividade móvel
O principal objetivo do 5G é entregar uma banda larga móvel aprimorada, capaz de entregar taxas de transmissão na casa dos gigabytes por segundo – as melhores conexões móveis de 4G no Brasil são no mínimo 10 vezes menores do que isso.
“Taxas altíssimas com baixa latência e alto grau de confiabilidade, como as propostas pelo 5G, nos levam a uma transformação da nossa experiência em relação à Internet Móvel”, avalia Marcelo Andrade, VP de telecom do Grupo Prysmian. “Não mais encararemos essa conexão como uma forma de lazer ou trabalho, mas vamos associá-la via Internet das Coisas para tornar nossas casas, lojas, empresas, transportes e cidades inteligentes de modo a facilitar e tornar mais eficiente o dia a dia”.
Mais do que a velocidade em si, o menor tempo de resposta (inferior a 1 milissegundo) permite que milhões de dispositivos sejam conectados por km² com menor risco de oscilações – o que torna mais viável a aposta em aparelhos e até veículos smarts.
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Infraestrutura mais próxima do cliente
Para proporcionar esse grau de experiência aos clientes, as operadoras terão de fazer alterações significativas na infraestrutura de telecomunicações, sobretudo se o 5G aprovado no Brasil for do tipo stand-alone release 16, ou seja, desfrutaria de um sistema de transmissão próprio totalmente separado das demais tecnologias como o 4G.
“Será preciso levar a computação cada vez mais próxima do usuário, a chamada edge computing. Os central offices das teles serão convertidos em data centers (CORD), que serão alimentados por outros ainda maiores com tecnologia embarcada na nuvem. Vale destacar também o movimento das big techs como Google e Facebook por cabos submarinos intercontinentais próprios para ter o controle das suas próprias taxas de transmissão”, analisa Gustavo Candolo, gerente comercial de telecom América Latina do Grupo Prysmian.
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Massificação de macro e micro antenas
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Por conta das altas velocidades e a baixa latência, as frequências por onde o 5G será operacionalizado terão ondas milimétricas, o que muda totalmente a forma como as antenas vinham sendo empregadas no setor.
“O 5G precisa que as antenas estejam mais próximas do usuário. Isso significa que teremos micro antenas com raio de alcance de no máximo 200 metros, muito abaixo da média de 1.6 km hoje utilizado no 4G. Além disso, serão necessárias ainda mais antenas de médio e grande porte para distribuir o sinal às micro células”, explica Candolo.
Com menos espaço disponível para novas antenas, muda-se também a forma como elas serão projetadas, principalmente ao migrar a unidade de processamento dos sistemas (BBU) para a nuvem, evoluindo do modelo Distributed Base Transceiver Station (D-BTS) para o Cloud Radio Access Network (C-RAN).
Densificação
Mais antenas significam que mais cabos ópticos serão necessários para cumprir as promessas do 5G. Mas como atender a esse novo contingente de antenas diante de cidades com postes e dutos já congestionadas por cabos?
“As mudanças no tipo de antenas para o 5G impactam diretamente o mercado de cabos. Se no 4G os cabos saem do central office com 50 a 300 fibras e passam pelo backhaul com 2 a 10 fibras, ao levar a unidade de processamento à nuvem no 5G, será preciso sair do central office com 800 a 2000 fibras e chegar no backhaul com 50 a 100 fibras por macro antena. Estamos falando em utilizar 10x mais fibra do que atualmente”, analista Andrade.
Para uma demanda 10x maior, é preciso tornar os cabos mais eficientes na mesma proporção ou até maior. E essa eficiência está associada a conseguir incrementar a quantidade de fibras no mesmo diâmetro de cabo, além de diminuir esse diâmetro para a mesma quantidade de fibra – tornado a métrica fibra/mm² o grande KPI do setor.
“É um desafio enorme para indústria de cabos. Vão se sobressair os players que investem massivamente em pesquisa e desenvolvimento. O Grupo Prysmian, por exemplo, vem obtendo recordes em conseguir diminuir o revestimento (coating) na fibra G657. De 2006 a 2019, reduzimos 44% da área da BendBright XS, totalizando uma fibra de 180 µm de diâmetro total, com o mesmo núcleo e casca de 125 µm desde o princípio. Isso significa que, no mesmo espaço/micro duto em que é possível usar um cabo G652 com 144 fibras, podemos utilizar um cabo G657 180 µm com 552 fibras”, afirma Candolo.
Cabos híbridos
Este avanço não depende exclusivamente do avanço das telecomunicações. Será preciso evoluir também em energia elétrica para alimentar o maior número de antenas (Fiber to the Antenna – FTTA) com a mesma dificuldade de espaço.
“O conceito é similar ao que aplicamos nos cabos umbilicais em plataformas de extração de petróleo. Precisamos combinar diferentes soluções em um mesmo cabo, e os híbridos vão atender essa demanda com fibras e fios de cobre compartilhando o mesmo espaço. No Grupo Prysmian já é possível encontrar microcabos híbridos compatíveis com eletricidade digital, ou seja, estamos falando de cabos com apenas 7.5 mm de diâmetro, de 6 a 36 fibras, com condutores de cobre de seção 6x1mm²² e que pesam apenas 100 kg por km”, explica Andrade.
A energia digital que vai alimentar as micro antenas consiste em um sistema de energia remota que faz transmissões de aproximadamente 300 V com pausas, interrompendo o processo em caso de qualquer mudança de capacitância para evitar acidentes com as pessoas que operam a rede.
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O 5G na América Latina passa por fibras e cabos fabricadas no Brasil
Vale destacar o papel do Brasil no fornecimento de cabos e fibras ópticas para a construção das redes 5G pelas operadoras na América Latina. Maior fabricante do mundo de fibras e cabos ópticos, o Grupo Prysmian concentrará a fabricação destes componentes em duas fábricas localizadas em Sorocaba/SP.
“Investimos nas plantas industriais de Sorocaba para aumentarmos nossa capacidade produtiva de preformas, fibras e cabos ópticos, antecipando-se à implantação das novas tecnologias para atender o mercado sem o risco de ser superado pela demanda”, completa Candolo.
São as únicas fábricas de telecom do Grupo na América Latina, o que dá o país o status de hub regional no fornecimento destes componentes. Além disto, em 2019, o Grupo inaugurou também em Sorocaba o Centro de Excelência em Pesquisa & Desenvolvimento justamente para seguir inovando, a nível regional, em soluções como os microcabos e cabos híbridos.
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Marciel
Formado em jornalismo, o editor atua há mais de 10 anos cobrindo notícias referente ao mercado B2B. Porém, apesar de toda a Transformação Digital, ainda prefere ouvir música em disco de vinil.