Em 4 de agosto, uma megaexplosão na região portuária de Beirute criou uma cratera de 43 metros de profundidade no local e devastou construções da proximidade. O acidente contabiliza, até agora, quase 200 mortos e cerca de 4 mil feridos, segundo a contagem oficial do governo do Líbano.
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De acordo com a professora Marcilei Guazzelli, do departamento de Física do Centro Universitário FEI, em uma detonação como essa a energia é liberada em torno de seu material explosivo, formando uma onda de choque que “varre” tudo o que encontra pela frente.
“De acordo com as informações e imagens divulgadas, estimo que, do centro da explosão até um raio de 250 metros, a destruição foi total”
comenta.
A professora explica ainda que a pressão sentida por quem estava em um perímetro de até 150 m equivale a um mergulho a mais de 100 metros de profundidade sem equipamentos de proteção: “ou seja, morte na certa”, explica Marcilei.
O poder de impacto desta explosão química equivale a cerca de 1500 toneladas de TNT, e é comparável a 10% do impacto causado pela bomba lançada em Hiroshima.
Conforme a distância aumenta, a energia da onda de choque se dissipa e, apenas após cerca de 10 km, é possível considerar não ter mais força de destruição. Ou seja, os danos são considerados suportáveis.
“Como a detonação ocorreu em uma zona portuária, boa parte da energia da onda de choque foi dissipada em direção ao mar, evitando que o desastre fosse ainda maior”
conclui.
Beirute: o que ocasionou a explosão?
Na região estima-se que estavam armazenadas 2.750 toneladas de nitrato de amônio, substância utilizada em diversas aplicações, dentre elas em fertilizantes, misturas congelantes, herbicidas e inseticidas e explosivos.
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O professor Ricardo Belchior, chefe do departamento de Engenharia Química da FEI, explica que o sal nitrato de amônio é obtido pela reação de neutralização do ácido nítrico com a amônia e que, em condições normais de temperatura e pressão, ele é bastante estável e não apresenta riscos se armazenado de forma adequada.
“Mas pelas imagens do acidente, é possível observar que antes da grande explosão estava ocorrendo um incêndio no porto. Com a alta temperatura do fogo é provável que tenha ocorrido a decomposição do nitrato de amônio, ocorrendo uma grande expansão dos gases liberados dessa decomposição e potencializando a explosão”.
Outro efeito extremamente grave da catástrofe foi a inalação de fumaça tóxica por pessoas que estavam nas proximidades. Belchior ressalta que a fumaça pode mesmo causar danos à saúde.
“Os gases tóxicos que atingiram a população pode ter sido proveniente do incêndio que estava ocorrendo, mas também devido à presença do nitrato de amônio. Este sal, quando decomposto totalmente, libera vapor de água, oxigênio e nitrogênio, que não são tóxicos. Todavia, é possível que ele tenha liberado também vapores de amônia, que é extremamente tóxico. Só uma perícia minuciosa poderá concluir o que de fato ocorreu em Beirute”
explica.
Como o nitrato de amônio é uma substância muito importante para o Brasil (por seu uso em fertilizantes), o professor recomenda que o caso de Beirute sirva de lição para revisarmos a forma de armazenagem do produto.
“Em temperatura ambiente, o nitrato de amônio é seguro de ser armazenado e manipulado. Entretanto, o acidente mostrou mais uma vez o poder de destruição desse produto quando em contato com o fogo”
afirma.
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Marciel
Formado em jornalismo, o editor atua há mais de 10 anos cobrindo notícias referente ao mercado B2B. Porém, apesar de toda a Transformação Digital, ainda prefere ouvir música em disco de vinil.