Tecnologia na educação infantil: o uso de recursos digitais é adequado para as crianças?

As ferramentas tecnológicas podem auxiliar os alunos a construírem o conhecimento de maneira ativa

A ampla adoção da tecnologia na educação, impulsionada exponencialmente pela pandemia, pode favorecer a aprendizagem e o protagonismo do estudante, desde que haja planejamento, docentes preparados e intencionalidade pedagógica. Analisar o currículo, o método de ensino e o material didático são passos essenciais, sobretudo nas séries iniciais do Ensino Fundamental – que demandam a consolidação da alfabetização e o conhecimento científico mais estruturado.

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Na Educação Infantil, a indicação para as crianças é a adoção de jogos que explorem conceitos relacionados a cores, formas, quantidades e alfabeto, além de aplicativos de livros digitais com recursos de realidade aumentada. No entanto, incluir a tecnologia no processo de aprendizagem não significa tirar a aprendizagem do papel e dar início a um ensino 100% digital. Cada fase do desenvolvimento da criança e do adolescente requer um cuidado especial que precisa ser respeitado. Essas são algumas das conclusões da equipe pedagógica da edtech Geekie, empresa brasileira que se tornou referência em educação com apoio da tecnologia e inovação.

Segundo Camila Karino, diretora pedagógica da Geekie, os pais e responsáveis têm muitas dúvidas e se preocupam com o uso da tecnologia, sobretudo nas séries iniciais.

“Muitos acreditam que as crianças não têm maturidade para lidar com a tecnologia dentro da sala de aula. Essa preocupação é muito relevante, mas vale ressaltar que os educadores devem respeitar o tempo-limite de tela, a maturidade cognitiva das crianças, os direitos de aprendizagem e os eixos estruturantes das práticas pedagógicas na etapa do ensino – que são as interações e as brincadeiras. Quando esses cuidados são observados e respeitados, vemos que a tecnologia se torna uma aliada poderosa no processo de aprendizagem na infância”, afirma a diretora, acrescentando que na contação de histórias, por exemplo, a criança pode ver um animal em tamanho natural e assimilar informações importantes do ponto de vista pedagógico a partir dessa interação visual. “A educação fica mais interessante e significativa”, salienta.

Espaços da tecnologia

Hoje, a tecnologia ocupa diversos espaços da vida, tendo alterado a forma como nos comunicamos, acessamos as informações, produzimos conteúdos e consumimos produtos e serviços. Por que, então, deveria estar fora das escolas? Com estudantes que têm contato com os recursos digitais desde muito cedo, torna-se imperativo preparar essas gerações para lidarem com as complexidades, oportunidade e os riscos apresentados pelo ambiente digital.

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“O espaço escolar precisa trazer o contexto do dia a dia do processo científico e da aprendizagem, especialmente para ajudar o aluno na compreensão da tecnologia e o papel dela no cotidiano. Trabalhar a cidadania digital, mesmo com crianças do quarto ou quinto ano, é uma forma de prepará-las para que não se tornem usuários passivos, mas pessoas que criam e produzem tecnologia com responsabilidade e segurança”, alerta Camila.

Embora o uso da tecnologia no âmbito escolar tenha ganhado força recentemente, essa presença não chega a ser uma novidade. As primeiras propostas para tornar o aluno mais ativo no processo de ensino-aprendizagem datam da década de 1960, quando o matemático sul-africano Seymour Papert – colaborador de Jean Piaget, um dos mais importantes pensadores da educação na história – criou a linguagem Logo, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Com ela, os alunos aprendiam matemática, criando códigos e desenhando figuras geométricas em uma tela. A teoria de Papert apontava que o método resultava em um aprendizado de forma significativa, pois os alunos conseguiam pensar nos erros a partir do que o programa mostrava. Na prática, o educador desenvolveu uma teoria de aprendizagem baseada no uso da computação e criou essa linguagem – a primeira pensada de forma intencional para a educação, na qual as crianças eram as responsáveis por comandar a máquina e não seriam comandadas por ela.

No Brasil de 2021, a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aborda o tema da adoção da tecnologia de forma transversal na Educação Básica em todas as áreas do conhecimento e dos componentes curriculares, sobretudo na competência geral número 5: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.”

“Os benefícios do uso de tecnologias digitais com intencionalidade pedagógica são muitos. Um deles é que traz a escola para perto das demandas desse estudante do século XXI, uma pessoa inquieta, que gosta de investigar e pesquisar. Neste contexto, a tecnologia se torna aliada desse processo. Um ponto relevante, também, é que a tecnologia impulsiona práticas ativas de educação como a sala de aula invertida e a aprendizagem por projetos – além de trabalhar competências socioemocionais essenciais ao desenvolvimento das crianças e dos adolescentes como criatividade, comunicação e colaboração”, ressalta a diretora pedagógica da Geekie.

Camila Karino, diretora pedagógica da Geekie.

Ao pontuar um outro benefício importante, Camila aponta a possibilidade de personalização da aprendizagem.

“Os recursos tecnológicos permitem que os estudantes identifiquem como podem aprender melhor, ou seja, propiciam ao aluno a criação da sua própria trilha de aprendizagem. E, nessa seara, o docente também é positivamente impactado, à medida que pode ampliar o seu papel e escopo de trabalho ao expandir as diferentes experiências de aprendizagem oferecidas à turma, com e sem tecnologia, pautadas pelas dificuldades e pelas facilidades de cada estudante”, afirma, ressaltando que o professor – nesse contexto da tecnologia dentro da sala de aula – assume um protagonismo no papel de ensinar que o torna um importante mediador da educação.

Essas possibilidades ampliadas, contudo, não excluem o papel do processo de aprendizagem. Cada etapa do desenvolvimento tem exigências diferentes: na Educação Infantil, a criança conhece a si e ao outro por meio da experimentação e da exploração em um tom lúdico trazendo à tona o brincar; no Ensino Fundamental, os alunos passam a interagir com o mundo; e, no Médio, o desenvolvimento é centrado na atuação crítica e ativa na sociedade. Como o foco muda de acordo com o segmento, a inclusão das tecnologias digitais com intencionalidade pedagógica precisa respeitar o nível de autonomia e maturidade.

“É por isso que na Educação Infantil, a tecnologia é mais indicada como um recurso para o professor. Com ela, o docente identifica o melhor momento para oferecer uma experiência com o digital que permita ir além das possibilidades que o material impresso oferece; ao longo do Ensino Fundamental, por sua vez, a proposta é inserir a tecnologia aos poucos, acompanhando a autonomia do aluno e sua capacidade de protagonizar a própria aprendizagem, em especial nos anos finais do segmento. Até aqui, o físico se faz presente no dia a dia, mas essa condição muda quando o adolescente inicia o Ensino Médio. Como a autonomia é maior, com ela se torna relevante a necessidade de um processo de aprendizagem mais ágil e conectado. É nesse momento que o uso das tecnologias se torna mais frequente, mas ainda com o imperativo de uma intencionalidade pedagógica em seu uso”, conclui a diretora pedagógica da Geekie.

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Marciel

Formado em jornalismo, o editor atua há mais de 10 anos cobrindo notícias referente ao mercado B2B. Porém, apesar de toda a Transformação Digital, ainda prefere ouvir música em disco de vinil.

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