“Vivemos uma guerra silenciosa”: Geraldo Guazzelli, da NETSCOUT, comenta alta nos ataques DDoS e os dados do novo relatório global de ciberameaças

Os ataques cibernéticos, especialmente os de negação de serviço distribuído (DDoS), deixaram de ser apenas ações criminosas isoladas e passaram a desempenhar papel central em guerras digitais ligadas a eventos sociopolíticos. É o que mostra o mais recente Relatório de Inteligência de Ameaças DDoS da NETSCOUT, divulgado neste mês. A análise destaca como essas ofensivas têm sido utilizadas para desestabilizar governos, atingir infraestruturas críticas e minar a confiança pública — especialmente em períodos de instabilidade, como eleições e manifestações.

No cenário latino-americano, o Brasil se tornou o principal alvo, com mais de meio milhão de ataques registrados apenas entre julho e dezembro de 2024. Esse número representa um aumento de 43% em relação ao semestre anterior e mais da metade de todos os ataques ocorridos na região no período. O país também aparece como protagonista no uso de botnets e se destaca por sua infraestrutura e relevância global, especialmente no setor agropecuário, tornando-se vulnerável e, ao mesmo tempo, gerador de ameaças digitais.

Com a crescente sofisticação das ferramentas de ataque — impulsionadas por inteligência artificial, automação e redes de dispositivos comprometidos — os desafios de mitigação se tornam ainda mais complexos. Serviços de aluguel de DDoS agora contam com IA para burlar mecanismos de segurança e lançar campanhas altamente coordenadas, mesmo por operadores inexperientes.

Para entender melhor o cenário atual, os fatores que colocam o Brasil em evidência e os caminhos para fortalecer a cibersegurança das organizações diante dessa nova realidade, conversamos com Geraldo Guazzelli, diretor das operações no Brasil da NETSCOUT.

tecflow: O relatório da NETSCOUT revela que o Brasil registrou um aumento significativo de ataques DDoS no segundo semestre de 2024. O que acredita ser a principal razão para o Brasil se tornar um alvo tão proeminente de ciberataques?

Geraldo Guazzelli: Alguns fatores ajudam a entender o que faz do Brasil não apenas um grande alvo de ataques, mas também um gerador desses ataques em nível global. Houve um crescimento exponencial em infraestrutura e serviços desde a privatização do mercado de telecomunicações até agora, o que elevou o país a uma posição de destaque. Além disso, o Brasil possui grande relevância em termos de presença global. Somos um dos maiores produtores agropecuários do mundo, alimentando cerca de 15% da população mundial, o que nos transforma em um alvo atrativo para hackers. Além disso, o país também se tornou um terreno fértil para hackers criarem botnets (redes de dispositivos controlados remotamente por cibercriminosos), que têm desempenhado um papel importante em ataques globais.

tecflow: O uso de inteligência artificial e automação tem impulsionado a escala e o impacto dos ataques DDoS. Quais são os desafios específicos que as organizações enfrentam ao tentar mitigar esses ataques, considerando o crescente nível de sofisticação das ferramentas de ataque?

Geraldo Guazzelli: Qualquer pessoa leiga no ChatGPT consegue, infelizmente, criar um ataque contra um endereço de IP. Por isso, acredito que sistemas de defesa precisam cada vez mais contar com bons sistemas de IA para garantir a segurança e proteção de sistemas vulneráveis. No entanto, vejo que o grande desafio para o futuro não estará na produção de chips e processadores, mas sim na questão energética. De maneira geral, o recurso escasso será o fornecimento de energia, pois poucos países possuem energia limpa, e data centers demandam um consumo significativo para analisar sistemas de segurança e prevenir ataques.

Quem está na defesa precisa estar sempre atento e atualizado com as melhores práticas e técnicas disponíveis no mercado. A visibilidade plena é a palavra-chave inicial para mitigar ataques, para ver e entender o que se passa nas redes internas das empresas, e no que entra e sai pela internet, para planejar e definir soluções, processos e pessoas

Os ataques DDoS estão cada vez mais conectados a conflitos geopolíticos e eventos sociopolíticos. Como a NETSCOUT observa essa tendência e quais medidas podem ser tomadas para proteger infraestruturas críticas durante períodos de instabilidade política ou social?

tecflow: As botnets continuam a desempenhar um papel importante nos ataques cibernéticos. Como a NETSCOUT está combatendo o crescimento e a resiliência das botnets, especialmente considerando a adaptação rápida dos invasores?

Geraldo Guazzelli: Esses ataques têm fundamento político e social, basicamente. A gente consegue mensurar esse tipo de ataque porque a gente identifica a botnet. E olhando e fazendo uma análise crítica, não necessariamente de onde partem esses ataques, porque você consegue estar na China e fazer um ataque no México, por exemplo. Isso é o advento da internet. Ela é maravilhosa, mas permite isso também no submundo do crime. Conseguimos identificar pelas botnets e quando você associa isso a uma análise da deep web e da dark web, é possível identificar o ataque e as fontes atacantes. E, principalmente, quando o ataque tem fundamentação política, econômica ou social, os grupos que atacam fazem questão de manifestar isso para que fique público quem está atacando e a intenção por trás disso.

Para proteger estruturas de ataques não basta ter pessoas treinadas e processos, você também precisa ter soluções que te protejam. E muito mais, o que está por trás de tudo isso é um planejamento detalhado para olhar o perfil da empresa, o serviço prestado, o perfil de tráfego e trabalhar nesses três pilares básicos para implementar as soluções de segurança adequadas. Hoje o mercado oferece uma infinidade de soluções.

É preciso olhar a segurança como uma unidade de negócio. Afinal, o que você vai fazer tendo soluções, pessoas e processos bem estruturados? Você poderá trazer mais receita para a empresa. Como? Não ficando fora do ar. Enquanto um concorrente está fora do ar, você vai prestar serviço 100% do tempo. Todos aqueles pacotes, todas aquelas tentativas de seus clientes, de seus usuários que eles tentarem no app para fazer uma operação estará disponível ali.

tecflow: O relatório destaca uma variedade de setores atingidos por ataques DDoS, como telecomunicações e transporte. Quais setores, na sua visão, estão mais vulneráveis a esses ataques no futuro e o que as empresas podem fazer para se proteger de forma mais eficaz?

Geraldo Guazzelli: Invariavelmente, o Brasil segue o padrão mundial, seja no tipo de ataque, nos alvos de ataque e, principalmente, também, no tamanho dos ataques, sejam em volumetria ou em quantidade de pacotes. Os setores mais visados são os services providers, todos eles, sem distinção de tamanho, grandes ou pequenos, o mercado financeiro sempre está nos top 3 de volume de ataques. E a gente vê algumas variações, as vezes o setor de educação e outros segmentos, o ecommerce, por exemplo. Porém, muito associado também a movimentos sazonais.

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Marciel

Formado em jornalismo, o editor atua há mais de 10 anos cobrindo notícias referente ao mercado B2B. Porém, apesar de toda a Transformação Digital, ainda prefere ouvir música em disco de vinil.

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