
Após ser duramente atingido pela enchente histórica de 2024, o município de Eldorado do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, se vê agora no centro de um dos maiores investimentos em infraestrutura digital da América Latina. Com aporte inicial de R$ 3 bilhões, a empresa Scala Data Centers pretende instalar uma “cidade de data centers” às margens da BR-290, ocupando uma área de 700 hectares. A promessa é transformar a região em um hub estratégico de tecnologia e inovação, capaz de atrair grandes players do setor, como Amazon, Google e Microsoft.
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O projeto, batizado de Scala AI City, prevê uma capacidade elétrica de 4,75 gigawatts (GW), o equivalente ao consumo de todo o estado do Rio de Janeiro —, o que coloca em perspectiva a grandiosidade e complexidade da operação. Ainda assim, o avanço das obras tem gerado críticas e apreensão entre especialistas e organizações da sociedade civil, principalmente pela ausência de estudos de impacto ambiental e pela falta de regulamentação específica para empreendimentos desse porte.
Desenvolvimento sem estudo ambiental
Apesar da magnitude da proposta, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), responsável pelo licenciamento ambiental no Rio Grande do Sul, confirmou que a empresa ainda não protocolou pedido de licença. Isso significa que o projeto não passou, até o momento, por qualquer avaliação oficial sobre os impactos à fauna, flora, recursos hídricos e estrutura urbana da região.
Essa lacuna preocupa ambientalistas e pesquisadores, já que data centers são conhecidos por sua elevada demanda por energia elétrica e uso intensivo de água para o resfriamento de equipamentos. A retirada recente da vegetação local, em sua maioria plantações de eucalipto, reforça a percepção de que obras preliminares já estão em andamento, ainda que sem a devida autorização ambiental.

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Infraestrutura e impactos potenciais
A área escolhida para abrigar o complexo está localizada em um terreno mais elevado, que não foi afetado pelas enchentes de 2024. Além da posição estratégica, a região conta com oferta robusta de energia e a presença de uma grande subestação elétrica, o que favorece o escoamento de carga. A prefeitura chegou a sancionar, em dezembro de 2024, a Lei Municipal nº 5.949/2024, que amplia o perímetro urbano para incluir a área destinada ao projeto, prevendo uma tramitação “simplificada e autodeclaratória” para o licenciamento.
Mesmo com o apoio institucional, o volume de energia necessário, quase cinco vezes a capacidade da usina de Jirau (3,7 GW), uma das maiores hidrelétricas do Brasil, levanta dúvidas sobre a viabilidade ambiental e energética do empreendimento. A empresa alega que utilizará fontes sustentáveis, como solar e eólica, mas até agora não apresentou estudos técnicos, prazos ou planos concretos para garantir essa autonomia energética.
Outro ponto crítico é o consumo de água. Data centers utilizam sistemas de resfriamento que, mesmo com tecnologias de reuso, exigem significativa captação de recursos hídricos. A falta de informações detalhadas sobre esse aspecto é motivo de alerta, especialmente em um Estado que vem enfrentando eventos extremos, como enchentes e estiagens prolongadas.
A impermeabilização do solo e a criação de “ilhas de calor” também estão entre os riscos associados à urbanização acelerada da área. A substituição de vegetação por estruturas de concreto e asfalto compromete o escoamento natural das águas da chuva e pode agravar problemas como erosão, alagamentos e degradação dos corpos hídricos.
Regulação ainda incipiente
A ausência de um marco legal nacional para a instalação e operação de data centers agrava o cenário. Embora o Conselho Estadual do Meio Ambiente tenha aprovado, em maio, uma resolução criando um novo ramo de atividade para o licenciamento desses empreendimentos no RS, ainda não há uma legislação federal clara que trate das obrigações e responsabilidades específicas do setor.
O governo federal, por sua vez, anunciou a criação da política pública Redata, voltada à atração de investimentos no setor com incentivos fiscais. No entanto, o conteúdo da proposta permanece em sigilo. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) chegou a solicitar acesso à minuta da política, mas teve o pedido negado sob a justificativa de que o documento ainda está em fase preparatória.

Crescimento tecnológico versus justiça ambiental
Projetos como o de Eldorado do Sul colocam o Brasil em rota de modernização tecnológica, mas também acendem alertas sobre o modelo de desenvolvimento adotado. Sem planejamento ambiental adequado, participação da sociedade civil e mecanismos de transparência, o avanço pode gerar desequilíbrios regionais, pressões sobre recursos naturais e ampliação das desigualdades socioambientais.
O desafio é conciliar inovação com sustentabilidade e garantir que a expansão digital venha acompanhada de compromissos reais com a mitigação de impactos e com o bem-estar das populações locais. Eldorado do Sul, que ainda carrega as cicatrizes da enchente, será um teste importante para avaliar como o país lida com os dilemas de uma nova era digital que se aproxima com velocidade, mas ainda sem os freios adequados.
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Marciel
Formado em jornalismo, o editor atua há mais de 10 anos cobrindo notícias referente ao mercado B2B. Porém, apesar de toda a Transformação Digital, ainda prefere ouvir música em disco de vinil.